sábado, 12 de janeiro de 2019

Cinco Dias



Título: Cinco dias
Autora: Julie Lawson Timmer
Editora: Novo Conceito
Ano: 2015


Cinco dias para ler e um ano para sofrer


     Cinco dias é o tempo que Mara e Scott têm para dizer adeus às pessoas que amam. 
     Mara é uma advogada workaholic que de descobre, no auge da sua carreira e, logo após adotar uma criança, que possui a Doença de Huntington, uma doença neurodegerativa que afeta a memória, a coordenação motora e as emoções. Ao visitar uma clínica onde vivem as pessoas no estágio terminal dessa doença, ela decide que não permitirá que a vida do marido e da filha acabe junto com a dela. É quando ela faz um acordo secreto consigo mesma: assim que percebesse os sintomas que indicariam que ela perderia em breve toda a sua autonomia e independência, ela se mataria. A data? Seu próximo aniversário, assim eles só teriam um dia do ano para lamentar sua vida e sua morte. Os sintomas apareceram, e, agora, só faltam cinco dias para o seu aniversário.
     Scott é professor de inglês e treinador de basquete. Ele e a esposa estão gastando seus últimos esforços e recursos para tentarem engravidar. Quando a mãe de dois de seus alunos, Bray e Curtis, é presa, Scott precisa tomar uma importante decisão. Depois de investir em Bray, um jovem de uma comunidade carente, para que ele fosse um talento nas quadras e conseguisse uma bolsa de estudos na faculdade, Scott não acha justo deixar o garotinho de 8 anos a seus cuidados. È quando ele pede a guarda provisória de Curtis por um ano e sua esposa finalmente engravida. Mas a mãe dos garotos agora já está para sair da cadeia, e ele terá que devolver a uma vida de miséria e abandono um menino que ele aprendera a amar como filho. E Scott tem só mais cinco dias com ele.
     Mara e Scott se conhecem em uma página da internet, cuja proposta é conversar anonimamente com desconhecidos sobre criação de filhos. É onde Mara pode se passar por uma pessoa normal e não receber compaixão das pessoas. É onde Scott pode desabafar sua dor de perder um menino que não é seu, enquanto não consegue dar a atenção necessária a filha biológica que está a caminho.
     Só mais cinco dias, e a história dos dois poderá mudar completamente.



PING-PONG
Título e Capa: Toda a história se passa em cinco dias, dividindo os capítulos em seis partes: os cinco dias e o dia D. A única imagem que aparece na capa branca, uma fita azul, dá o tom melancólico correspondente à história.

Como o livro me achou: Eu já tinha visto esse título na livraria e me interessado por ele. Sabia que seria um livro triste, mas mesmo assim, coloquei na minha lista de desejos. Depois de alguns anos, uma promoção me fez finalmente satisfazer a curiosidade do que se passaram, afinal, nesses fatídicos cinco dias.

Foi Top: Gosto muito de livros que trazem informações reais sobre temas importantes. Deu para notar a extensa pesquisa que a autora (aparentemente sem nenhuma relação com essa doença) teve que fazer para tratar com fidelidade o tema. Aprendi muito sobre a doença de Huntington através dessa obra, e livros que ensinam só podem valer muito a pena.

Não tão Top: Acho que as duas histórias não combinaram muito para estar no mesmo livro. Eu sei que na vida real é assim, alguém te conta sobre o seu problema, enquanto você tem um problema mil vezes pior. Mas parece que a autora meio que colocou no mesmo patamar de importância as duas histórias, o que tirou a emoção da história de Scott. Foi algo como: "a mulher está morrendo com uma doença horrível, tanto faz para mim se o menino vai ficar com Scott ou com a mãe biológica".

Só nesse livro: Você não consegue se posicionar quanto ao que aconselharia os personagens a fazer. Seus problemas não têm soluções simples. Você torce para Mara superar a doença e ficar mais tempo com a família que ela ama e que tanto ama ela. E torce para ela evitar tanto sofrimento com um outro que, acreditamos, um dia sua família vai superar. Você torce para Curtis ficar para sempre com Scott, tendo um lar e uma família de verdade. E torce para Scott e Laurie terem sua própria família do jeito que sonharam, sem a presença de um garoto problemático na vida deles. A autora teve que tomar uma decisão no final. E você nem sabe se queria mesmo que tivesse sido diferente.

Quem me conquistou: Tem um personagem que aparece pouco, mas que já fez toda a diferença para mim na história: o taxista. Harry foi chamado por Mara para levá-la para casa no dia em que O sintoma apareceu. Diferente das outras pessoas que ela conheceu, ele não fez perguntas, nem julgamentos. Apenas a levou para casa. Isso a fez pegar seu contato e passar a ir para todo o lugar com ele. Os dois acabaram se tornando amigos improváveis em suas conversas silenciosas. Ele também tinha os seus segredos, o que permitiu que compartilhassem, com o tempo, suas vergonhas, na promessa de não serem mais um a apontar o dedo falhas um do outro.

Quem podia cair fora: Laurie, a mulher de Scott. Insuportável. Mulher egoísta, fingida, chantagista e manipuladora. Aceitou o menino em casa por um ano porque o médico disse que seria bom uma "distração" para ela conseguir engravidar. Quando ela consegue, conta os dias pro garoto cair fora para ela ter de novo a atenção do marido só para ela. Quando Scott quer mais tempo com Curtis, ela faz chantagem emocional, dizendo que ele não está nem aí com a filha dele de verdade, que o menino não é ninguém da família, sem dar a mínima para o contexto de vida de Curtis para ele ter ido parar na casa deles. O livro teria sido só para sentir tristeza e se emocionar com as demonstrações de amor, se não fosse a raiva que se passa lendo sobre o comportamento mesquinho dela.

O que o livro me ensinou: Me ensinou a olhar com mais tolerância para todas as pessoas do mundo. Julgamos muito sem conhecer o que se passa na vida de cada um. Mara andava como se estivesse bêbada por causa da doença, e era alvo de risadas e rejeição por causa disso. Quantas vezes não rimos quando alguém tropeça na rua, ou tem alguma ideia absurdamente idiota, ou é incapaz de fazer um cálculo simples? Pode ser preguiça, desatenção, desleixo... Ou pode ser uma doença, uma limitação, algo que fuja do controle, e machucamos tanto alguém a troco do quê? De uma risada? A troco de absolutamente nada.

"Então, ela fechou os olhos, baixou a cabeça também e fez um desejo em silêncio para que tivesse um deus no qual acreditar. Seria um conforto pensar que havia alguma coisa, ou algum lugar, depois disso. Que havia um motivo para a sua doença, que não era meramente o resultado do sorteio de uma loteria que ela tinha perdido ao nascer. Que haveria alguma lição de vida nisso tudo. E, ela pensou, mesmo que acreditar não trouxesse conforto a ela, pelo menos seria bom ter alguém em quem pôr a culpa." (p. 201)

Esse livro fala muito pouco de Deus. Talvez, só nesse trecho e algum outro, no final. Algo que eu não consigo compreender é como alguém consegue passar por uma situação dessas e não querer se aproximar do Senhor. Se Ele é a única resposta, a única esperança. Não vou julgar esse pensamento dela. Para Mara, não existia um deus bom o bastante que fosse capaz de extrair algo de bom do seu sofrimento. Nem um deus mau o bastante para ter culpa por promover essa doença. Só sinto tristeza em pensar que muitos, sem conhecer o verdadeiro Deus, chegam no estágio de tão profunda desesperança, que só veem solução na morte. Se tivesse Deus nessa história, eu teria, sim, um conselho a dar a Mara, e este, certamente, não envolveria pílulas, vodka e monóxido de carbono. Envolveria toda a esperança de vida que só o Soberano Criador poderia dar.
 
Cinco Dias é um Drama, com D maiúsculo mesmo, e sou fã de livros que pagam o seu gênero. Adquiri a obra sabendo que ia chorar e chorei mesmo, então, valeu!





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