quarta-feira, 10 de abril de 2019

A Garota das Nove Perucas



Título: A garota das nove perucas
Autora: Sophie van der Stap
Editora: Virgiliae
Ano: 2006 (original)/ 2013 (Brasil)


Nove chances de refazer a vida...



    Essa é a autobiografia de Sophie, uma holandesa que descobriu muito jovem que tinha um tipo raro de câncer.
"Minha história, escancarada em palavras, mal começada ou quase terminada tão logo consiga capturá-la e dar-lhe um fim." (p. 198)
    Sophie van der Stap sempre viveu de forma livre e desimpedida. Uma garota apaixonada e apaixonante, que gosta de festas e vibra com seus amigos, até ver sua vida sendo transformada pelo surgimento inesperado de uma doença letal.
    Por conta de sua vaidade, o que ela mais passa a sentir falta é de seus cabelos. Recusa-se a sair de casa careca, e também não quer andar com panos e lenços na cabeça. Procura um refúgio nas perucas, mas não consegue se sentir ela mesma atrás de uma peruca qualquer, sem personalidade. É quando experimenta perucas ousadas e descobre que cada uma delas revela uma parte de si.
"Uma peruca é muito mais do que um chumaço de cabelo. Elas têm um certo efeito sobre mim, não só na minha cabeça, mas também na minha consciência feminina. Ter uma aparência diferente faz com que me sinta diferente e provoque reações diferentes nos outros." (p. 40)


"Todos esses cabelos diferentes me ensinam a me enxergar melhor. Essa sou eu, essa outra sou eu e aquela sou eu também... E esta aqui sou eu de verdade." (p. 67)


PING-PONG

Título e Capa: As nove perucas revelam nove traços da personalidade de Sophie. O que torna a sua história diferente das outras é justamente o meio que ela usou para encarar o câncer: a criatividade. Quanto à capa, é de longe uma das mais bonitas e significativas que já vi. Há pôsteres de Sophie usando suas nove perucas nas orelhas do livro e, na capa, está a linda Sophie sem peruca.

Como o livro me achou: Esse foi indicação de um blog que, infelizmente, não consigo recordar o nome. O engraçado é que a resenha me fez ter uma ideia do livro; quando eu o comprei, tive outra ideia; e, quando li, o livro foi diferente das duas ideias, hahaha. Mas sou muito grata à indicação!

Foi Top: O fato de ser a autobiografia de uma jovem mulher tão guerreira, que foi capaz de superar um momento tão difícil com leveza e com perucas. Ela faz também excelentes reflexões e mostra um jeito diferente de celebrar a vida.

" Às vezes, tento expulsar esse medo lembrando de quantas não foram as almas que me precederam. Pensando assim não há como imaginar que o outro mundo seja um lugar solitário. É a solidão o que mais me aterroriza, é o que me afigura mais monstruoso de todo esse processo. Por que é que não podemos morrer todos juntos?" (p. 120)

Não tão top: Achei muito triste Sophie não querer buscar a Deus nessa hora. Sua visão a respeito do Senhor não mudou com a doença. Para ela, Jesus continuou sendo apenas um "amigo" distante que se equipara a outros ídolos místicos, para quem acender uma vela, ao lado das que ela acende para os mortos. Entendo a questão cultural, a fé de cada um, mas acho triste pensar que nem o estar a beira da morte seja capaz de levar alguém para mais perto de Deus e da sua vontade.

Só nesse livro: Você encontra as personagens de Sophie em fotografias na capa. Foi delicioso ler uma cena e abrir a orelha do livro para imaginar Uma, Sue, Pam, Blondie, Platina, Daisy, Stella, Bebé e Lydia em suas aventuras.

Quem me conquistou: Bem, a guerreira Sophie sempre terá um lugar no meu coração. A despeito das questões de fé, ela é uma boa moça, que cresceu muito com a experiência da doença, e que ainda faz um trabalho maravilhoso hoje para outras pessoas com câncer (perdão por esse spoiler, mas ninguém merece ser conquistado por uma mulher de nove faces e perdê-la na última página. Você precisava saber). Admiro uma pessoa real, de carne e osso, não só uma personagem de um livro, e isso é fabuloso.

Quem podia cair fora: O Gravatinha. Para preservar a identidade das pessoas reais de seu livro, Sophie adotou alguns apelidos para os personagens, e olha que esse eu tenho vontade de conhecer na vida real mesmo e dizer umas boas verdades. Esse ser humaninho (com diminutivo para diminui-lo mesmo) teve a insensibilidade de dizer na cara dela que perucas saindo do lugar e o aparelho que é usado como sonda para a quimioterapia (port-a-cath) não "faziam parte dos seus feitiches". Ela só queria sair um pouco da sua realidade tão triste, sair com alguém sem ter que ficar sendo alvo de pena ou consolo, não tinha por que ele dizer uma coisa dessas. Mas Sophie foi mais forte do que isso, e foi ele quem saiu perdendo mesmo!

O que o livro me ensinou: que é possível encontrar alegrias em meio às tristezas. É claro que nunca achamos que vamos passar por algo do tipo para poder por em prática essas lições, mas o problema, muitas vezes, tem o tamanho que nós damos para ele. Ás vezes, um plano frustrado, um fora, ou uma discussão boba podem parecer o fim do mundo para nós, mas dependendo da forma como vemos as coisas, elas se tornam pequenas, e somos capazes de superar cada dia e ainda nos divertir com o lado bom da vida (epa, esse já é outro livro!).
"Sem tempo não existimos, mas com o tempo também prefiro não viver. Assim, o melhor é pensar no hoje e viver o mínimo possível do amanhã." (p 168)
A leitura, em si, não é daquele tipo arrebatador, um romance com muitos conflitos e reviravoltas, até porque este não é um romance, e sim um diário que conta a história de uma mulher com câncer. Mesmo assim, há muito o que se extrair e aproveitar. Só não comece a ler quando estiver para baixo, porque o começo é mesmo um pouco depressivo.




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