Lugares Escondidos

Título: Lugares Escondidos
Autora: Lynn Austin
Editora: United Press
Ano: 2001 (original)/ 2012 (Brasil)

Para ficar em um lugar escondido no coração...

     Elise Wyatt tinha uma vida boa, mas, de repente, se encontra viúva, mãe de três filhos e com uma propriedade rural cheia de dívidas para cuidar. Criada nos moldes cristãos, mas sem acreditar que, de fato, há um Deus bondoso que esteja cuidando de todas as coisas, ela pede a quem quer que esteja "lá no céu" para lhe enviar socorro.

     É quando aparece em sua casa Gabriel Harper, um andarilho com a perna ferida, pedindo ajuda e um teto para morar. A princípio, ela achou que havia sido atendida. Um homem forte em sua casa, disposto a trabalhar em troca de abrigo e comida, seria muito bem-vindo nessa hora de dificuldade. Mas o medigo só piora e passa a oferecer mais trabalho do que auxílio, além de ameaçar trazer a tona para a família o mesmo sofrimento que a morte do patriarca, Fernando Wyatt, causou.

     Enquanto tenta tratar e despachar depressa o indesejado hóspede, Elise ainda precisa dar conta de mais um problema: Tia Batty, uma velha meio maluca que mora em um chalé vizinho aos pomares Wyatts. O telhado da casa dela cedeu sobre a cozinha, impedindo que ela continuasse vivendo lá. Assim, a mulher, dois gatos gordos, um cão caolho e uma biblioteca inteira acabam indo parar na casa de Elise.

     A sra. Wyatt acha que as coisas não poderiam piorar, até descobrir que nem mesmo sua propriedade está em seu nome. Ao que tudo indica, o velho e cruel Vitor Wyatt, avô das crianaças, deixou tudo para o outro filho.

     Sem mais esperanças, Elise luta para pagar as dívidas e encontrar o herdeiro do seu patrimônio, e os que pareciam ser mais um peso em sua vida se mostram as únicas pessoas com quem ela pode contar. Com o passor do tempo, porém, ela descobre que não só ela tinha seus segredos, mas todos mantinham em silêncio seus próprios lugares escondidos.

PING-PONG

Título e Capa: O título "lugares escondidos", igual em inglês, é tanto literal quanto figurativo. O livro fala de escritores (como não amar?) e seus lugares de refúgio, fugitivos de suas histórias e segredos escondidos no passado.

Como o livro me achou: Indicação de uma livreira na rua Conde de Sarzedas (o paraíso dos livros cristãos), que também vende meus livros em sua vitrine. Acertou em cheio.

Foi Top: A descoberta dos lugares escondidos de cada personagem. Não tem história fraca, injustificável. Cada um é protagonista da sua história, fazendo desse livro uma coletânea de excelentes romances.

Não tão Top: Uma coisa que sempre detestei nas histórias eram "mocinhos" que aprontavam com os outros, mas, por serem "mocinhos", acabavam tendo um final feliz. Por isso minha predileção por vilões, porque eles são sinceros nas suas maldades e pagam por isso. Acho que Elise sempre foi uma pessoa ruim. Não só ao conhecer os lugares secretos dela, mas pelas atitudes egoístas dela em todo o tempo. Mas ela é a protagonista, então, apesar do grande sofrimento, acaba melhor do que acho que devia.

Só nesse livro: Os capítulos são dividos em partes para cada narrador. A história vai se desenrolando, até que chega a hora de conhecer a história da tia Batty, por exemplo. É iniciada uma nova parte do livro, onde os capítulos serão narrados por ela, e assim por diante. Excelente ferramenta narrativa. Além do mais, através dessas narrativas, descobrimos a fonte de certas citações dos personagens, por que pensam de determinada maneira. Fenomenal.

Quem me conquistou: Não tanto pelas atitudes, mas pela personalidade, Gabriel Harper é um excelente escritor, e sua história com as palavras me conquistou demais.

"As palavras estouravam em meu cérebro como um exército indisciplinado, batendo uns contra os outros enquanto procuravam suas posições, empilhando-se em confusão e desordem. Poucas palavras conseguiam escapar de meus lábios.[...] Escrever tornou-se minha válvula de escape secreta quando a pressão para expressar-me chegava ao auge." (p. 252 e 255)

Quem podia cair fora: Como já mencionei, adoro vilões bem caracterizados, e Vitor Watt seria mais um bom vilão para colocar na minha lista, o tirano bonitão, até ele dizer a maior bobagem já dita em todos os tempos: 

"- Todos os livros, exceto a Bíblia, são frívolos, e a maioria deles é do diabo.
- Está brincando. Livros são do diabo?
Ele não estava brincando.
- A Bíblia chama Satanás de pai da mentira, e os romances não passam de mentiras criadas pela imaginação maligna do homem." (p. 112)

What??? Como perdoar uma blasfêmia dessas? Por isso, e também pelo sofrimento irremediável que causou aos bons personagens do livro, Vitor podia e deveria cair fora dessa e de qualquer outra história!

"Rimos então e senti o poder curativo do riso cobrindo minhas feridas. Não podia lembrar de ter rido alguma vez com Vitor Wyatt e ocorreu-me que uma vida inteira sem rir poderia ser ainda pior do que uma vida sem livros." (p.115)

O que o livro me ensinou: Sabedoria da Tia Batty:

"Deus fez a vida frágil para que a considerássemos um tesouro, como ele a considera. Você não é tão cuidadosa com suas panelas de ferro como é com a sua porcelana, é? Deus queria que a vida fosse preciosa para nós; portanto, a fez tão frágil quanto a porcelana." (p. 56)

 Livro excelente, digno de ser mesmo guardado do coração. Essa é uma história inesquecível, que ficará entre as melhores na minha estante.