terça-feira, 3 de julho de 2018

Imperfeitos




Título: Imperfeitos
Autora: Cecelia Ahern
Editora: Novo Conceito
Ano: 2016



A melhor distopia para esse ano... (se você não leu ano passado)



     Imperfeitos conta a história de uma sociedade que, por conta da corrupção no governo, acabou adotando o chamado Tribunal, entidade que condena pessoas moralmente desviadas a uma vida eternamente marginalizada.
     Celestine é uma moça de 17 anos e é perfeita. Tem ótimas notas na escola, cultiva uma vida à prova de máculas e, como se não bastasse tamanha perfeição, ainda namora Art, o filho do juiz Crevan, autoridade máxima no Tribunal.
     A garota aprendeu desde a infância que deveria seguir à risca as regras e se manter afastada dos imperfeitos, coisas que não via nenhuma difiiculdade, pois sempre gostou de seguir regras. Até que um dia, em um ônibus, um idoso que a fez lembrar o próprio avô começa a passar mal, e os únicos lugares em que ele poderia se sentar estão ocupados. Ele é imperfeito.
     Em um impulso de compaixão e insana ousadia, Celestine tenta ajudar o imperfeito, levando-o a se sentar em um local proibido, já que o homem não se aguentava mais em pé. Com essa atitude ela passa a ser alvo de um escândalo sem precedentes, ficando no meio do tiroteio entre os dois extremos da sociedade, os perfeitos e os imperfeitos: se ela admitir ter ajudado o senhor, será considerada imperfeita e condenada a uma vida de desgraças. Se negar, o idoso pagará o preço por ter se sentado em local proibido, podendo culminar, por seu grave estado de saúde, em sua própria morte.
     O que de fato está em jogo? Qual será a posição de Celestine e quais as consequências de sua escolha? Parte dessas respostas estão nesse primeiro livro da série, Imperfeitos.



PING-PONG

Título e Capa: "Imperfeitos" indica justamente a inversão de valores vista nesta ou em qualquer sociedade em que pessoas imperfeitas ditam o que é a perfeição. Há ainda o subtítulo: nossos defeitos nos fazem ser quem somos. Diferente do que essa frase possa evocar, não vejo uma exaltação ou mesmo aceitação dos defeitos e pecados humanos, mas a demonstração de um sério desvio de caráter dos que se julgam perfeitos segundo seus próprios critérios, e suas consequências. A capa tem em relevo brilhoso a marca que os imperfeitos recebem, e uma moça, provavelmente Celestine, caminhando por uma estrada, seu destino.

Como o livro me achou: Esse não é o primeiro livro de Cecelia Ahern que li. O primeiro foi "A vez da minha vida", cuja história não me chamou tanto a atenção. Em ambos, porém, vejo que a autora quer nos levar a uma reflexão da nossa vida e avaliar se estamos mesmo vivendo ou apenas existindo, "seguindo a maré". Na livraria Curitiba, encontrei esse livro com uma super promoção e resolvi dar uma nova chance à autora. Não me arrependi.

Foi Top: Adoro essas distopias que fazem a gente pensar sobre o mundo de outra maneira. Não é à toa que tanto amava as aulas de geopolítica na escola (única coisa, por sinal, que gostava em geografia). E acho muito pertinente essa abordagem, o que, mesmo tendo sido escrita por uma autora irlandesa, me remeteu ao período brasileiro da ditadura, mostrando que a imposição nunca deu e nunca dará certo em uma sociedade. Principalmente se as pessoas que aplicam esses critérios se considerarem acima deles.

Não tão Top: Eu entendo que a autora quis cutucar uma ferida real e mal cicatrizada que as cruzadas fizeram no mundo, com repercussões até hoje de como o mundo vê os cristãos: impositores de regras e de castigos. Também tenho plena ciência dos que, em nome de Deus, têm cometido as maiores atrocidades, tanto no passado como na atualidade. Mesmo assim, é doloroso ver nos livros essa associação dos que se dizem cristãos com o mal do mundo.

Só nesse livro: Bem, não costumo ler livros com muita ação, torturas, essas coisas, mas vou dizer que algumas descrições chegaram a me arrancar lágrimas, de tão emocionantes e vívidas. Para não dizer que foi mesmo só nesse livro, algo parecido, mas mais aflitivo do que emocionante, eu vi também em O Dia da Caça, de James Patterson.

Quem me conquistou: Gostei da distinção entre cada personagem e, contraditoriamente (ou talvez não) suas imperfeições. Uma mãe que parece estar sempre no limite, um pai covarde, uma irmã traíra, um namorado banana, uma amiga insensível e um avô aventureiro. Que turma bacana de se trabalhar num livro! Hoje vou ficar com a jornalista Pia, que parece, a princípio, meramente sensacionalista e desumana, mas mostra que tem muito mais a oferecer nas próximas páginas. Virei sua fã.

Quem podia cair fora: Sério, com uma irmã dessas, os inimigos viram fichinha. Já falei aqui que adoro vilões, mas Vilões com V maiúsculo, que mostram para o que vieram. Odeio traíras, gente que se faz de boazinha, mas apronta pelas costas. E ainda se sai bem no final! Alguém que já leu o livro pode discordar do que digo de Juniper (isso lá é nome de gente que presta?), mas que eu daria uns bons tapas nessa sonsa, até ela sair do livro com seu rímel barato escorrendo pelo rosto, ah, eu daria.

O que o livro me ensinou: Pessoalmente, talvez a luta por uma causa, a luta pelo que se acredite a qualquer preço. Sociologicamente, que sempre haverá corrupção quando as regras são diferentes para uns. Como bem disse George Orwell, "todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais que outros". Se é assim, então vivamos a anarquia, e não a hipocrisia da perversão disfarçada de justiça.

Ótima história em termos de reflexão, bons personagens, belos efeitos e uma protagonista por quem torcer (o que realmente não é sempre que acontece).
Roendo as unhas para ter em mãos o próximo e último (acredito) volume da série!


"Aprendi que ser corajosa significa sentir medo o tempo todo. A coragem não nos domina, ela luta e enfrenta as dificuldades por meio das palavras e das atitudes que você toma. É uma batalha ou uma dança que vai se impregnando. É preciso coragem para vencer, mas é preciso muito medo para ser corajoso." (p. 112)




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