segunda-feira, 7 de outubro de 2019

A Máquina de Contar Histórias






Título: A máquina de contar histórias

Autor: Maurício Gomyde
Editora: Novas Páginas
Ano: 2014

O que todo autor quer e não quer ser...


     Vinícius Becker é um famoso escritor de romances. A forma com que foi criado e a maneira com que a fama lhe alcançou fizeram dele o que todos consideravam como "a máquina de contar histórias". E era exatamente nisso que ele havia se transformado, em uma máquina potente e fria para criar mundos e personagens que conquistariam todos, mesmo tendo sido criados sem nenhum sentimento.  
 "Como você consegue colocar tanta paixão nos seus livros? Quanto há de real nas suas histórias? Você se inspira nos amigos e familiares para criar os personagens? As perguntas dos jornalistas nunca mudavam.
A paixão tem que fazer parte da vida do escritor, para que as palavras venham carregadas da credibilidade que o leitor merece; eu não conseguiria escrever com amor sobre aquilo que não conheço; A inspiração para os personagens vem de coisas que eu leio, vejo e vivencio. As respostas também nunca mudavam.
Um ritual ensaiado à exaustão para algo em que, no íntimo, Vinícius sempre acreditou: escrever era um exercício, e, uma vez aplicadas as técnicas, não tinha como dar errado." (p. 10)
     No seu último lançamento, Vinícius recebe a notícia de que sua esposa havia falecido e que ele, mais uma vez, não esteve presente quando sua família mais precisou.
     A família V já tinha sido muito feliz. Vinícius, Viviane e a amada filha Valentina formavam a família perfeita. Tudo havia mudado, porém, com a notícia de que Viviane sofria de leucemia. Soube disso quando estava grávida, dando o nome de sua segunda filha de "Vida", aquilo que, em breve, ela já não teria mais.
     A doença cada vez mais agressiva levou Vinícius a se afastar da esposa e a se entregar de corpo e alma aos livros. Essa entrega o levou a uma fama ainda maior, mas fez com que perdesse tudo o que lhe era mais importante.
"O lugar pelo qual ele tanto havia lutado revelava-se o lugar em que ele nunca havia desejado estar." (p.54)
     Agora, Vinícius precisa recuperar o que ainda resta da família V, mas suas filhas, sobretudo Valentina, não consegue perdoá-lo por sua ausência. Ele terá que redescobrir o significado daquilo que explicava com tanta eloquências em seus livros: o amor.

PING-PONG

Título e Capa: O escritor Vinícius Becker era considerado a Máquina de Contar Histórias, por ser capaz de criar histórias como uma verdadeira máquina. O desenho da capa ilustra uma máquina de escrever e momentos em que o romancista viveu em sua própria história.

Como o livro me achou: A capa me foi bem chamativa, junto com um título promissor para os devoradores de histórias. O tema também me atraiu, por se tratar da vida de um escritor.

Foi Top: Gostei muito do fato do protagonista ser um escritor, o que fez com que os próprios passos e diálogos dele se tornassem tão poéticos.

Não tão top: Estou tentando fugir de livros que falam sobre doenças e morte, mas parece que não fiz uma boa escolha ao comprar uma história que já começa com tudo isso. Pensei que sairia ilesa, já que o pior já tinha acontecido, mas o final do livro me pegou de jeito e me levou às lágrimas. Não posso nem reclamar disso, pois essa façanha é mesmo uma conquista do autor, mas a história foi de uma leveza em certos momentos que não me prepararam para a última cena.

Só nesse livro: Recurso fantástico foi ter símbolos de "play", "pausa", "avançar" e "retroceder" antes de cada capítulo, mostrando se o momento aconteceu antes, depois, ou se houve uma pausa para reflexão. Apesar desses símbolos representarem mais um recurso audiovisual, vê-los em um contexto de livro foi muito interessante.

Quem me conquistou: Não costumo ser muito fã de personagens adolescentes, mas Valentina me surpreendeu com a maturidade que teve para enfrentar o luto pela perda da mãe. Ela, obviamente, ficou muito decepcionada e brava com a ausência do pai, resistindo-o nas horas certas, expondo seus erros, mas também cedendo em alguns momentos. Uma artista também, personagem que valeu a pena conhecer.

Quem podia cair fora: O agente de Vinícius, Salvatore. Homem terrivelmente insensível e fútil. Só pensou em trabalho, carreira e dinheiro, quando o escritor havia perdido a esposa. Ficou cobrando dele que fosse a entrevistas, respondesse aos fãs, como se ele só tivesse perdido um jogo de buraco, e não o amor da sua vida e mãe das suas filhas.

O que o livro me ensinou: Que existem coisas que a gente perde e não pode mais voltar atrás, mas há coisas mais duradouras do que um momento. Às vezes, acabamos faltando em algum momento crucial, ou dizemos algo irreversível, mas aquilo que sempre fomos e o que ainda podemos fazer são armas igualmente poderosas.

Um livro profundo e recomendado. Fui pega desprevenida, por isso me abalei (só por isso... rs), mas é uma história muito boa e surpreendente.




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